
28 fevereiro, 2012
22 fevereiro, 2012
Lena Afonso, filha de José Afonso, fala connosco

Lena Afonso, filha do grande músico José Afonso, no dia em que se recorda toda a sua obra, no dia em que ele há vinte cinco anos nos deixou,respondeu-nos assim:
Jornal Preto no Branco - Onde nasceu e estudou?
Lena Afonso - Nasci em Coimbra em 1953. Estudei em Berlim Ocidental
e em Leiria e sou educadora social.
Lena Afonso - Nasci em Coimbra em 1953. Estudei em Berlim Ocidental
e em Leiria e sou educadora social.
JPB - Quais as áreas
que mais a fascinam?
L.A.- Eu diria que são várias: as Humanidades, a Biologia, as
Línguas.
JPB - Porque escolheu a área onde trabalha actualmente?
L.A.- Porque a revolução a 25 de Abril de 1974 atirou grande
parte dos jovens de então para, literalmente, o meio da rua. Descobrimos o país
de então: pobre, analfabeto, em que o trabalho infantil era aceite e grande
parte da população rural era obrigada a emigrar para sobreviver. Apenas uma
minoria frequentava liceus e completava estudos universitários. A palavra
Doutor era associada a privilégios e distinção social. Os cuidados médicos eram
apenas acessíveis a quem os podia pagar e os direitos humanos, consagrados pela
lei em países democráticos (igualdade de oportunidades no acesso á educação e
saúde, protecção à criança e leis contra a descriminação feminina ou racial ,
apenas para citar alguns exemplos) eram praticamente inexistentes. Saindo da
ditadura, apercebíamo-nos do isolamento internacional: Portugal era uma das
três últimas ditaduras fascistas da Europa e conduzia uma guerra injusta contra
os povos das colónias. E queríamos ajudar a construir: as clínicas, as escolas,
a agricultura para as populações alentejanas, as fábricas que deveriam produzir
mais, as artes com a fundação de teatros, escolas de música e dança e, falando
na parte ligada ao que veio ser o meu trabalho social, queríamos igualmente
ajudar a construir bairros habitacionais dignos para as populações dos muitos
bairros da lata que rodeavam as cidades portuguesas de Norte a Sul. Por um mero
acaso fui contactada por alguém que trabalhava nesse sector , o então Fundo
Fomento da Habitação e que procurava alguém à procura de trabalho: é assim que
entro para uma das equipas SAAL, com 21
anos, na cidade de Setúbal. O contacto com a realidade dos bairros degradados e
com as terríveis condições de vida dos seus moradores foi decisivo para as
minhas opções profissionais.
JPB - Sendo filha do
José Afonso, que influência é que ele teve na sua vida?
L.A.- São muitas as influências; refiro a importância da
cultura, o ler bons livros, revistas e jornais, ver bons filmes ou ouvir boa
música. Pensar pela própria cabeça, desenvolver o espírito crítico e ser
solidário eram características do meu pai, que cultivava a amizade, que gostava
de boas conversas sobre literatura, filosofia, música e, acima de tudo, troçar
das coisas ridículas, da mediocridade. Era uma pessoa distraída, mas concentrada
e disciplinada quer fosse na criação musical e poética, quer fosse na hora de
ensinar. Não era conivente nem com a preguiça nem com o facilitismo. Combatia a
minha preguiça e as desculpas que eu muitas vezes arranjava para adiar as
minhas tarefas. Por último era uma pessoa completamente íntegra, algo tímida,
imune à corrupção, à sedução do enriquecimento ou a egocentrismos de vedeta,
características que relembro sempre.
JPB - Quais as músicas que mais a marcaram e porquê?
L.A.- Quando era criança, é a canção “O meu menino é d’Oiro” aquela
que ouço então pela primeira vez. Também o “Menino do Bairro Negro” é uma das
canções para mim mais relevantes nos anos 60, pela belíssima melodia e pela
escrita fortemente poética, dedicada às crianças desfavorecidas e à esperança, um quase hino às crianças do
mundo inteiro “sem condições”. Por último, “Redondo Vocábulo”, saída um ano
antes do 25 de Abril de 1974, canção cujo texto é escrito na prisão de Caxias,
corresponde a um período da minha juventude extremamente instável: os jovens
debatiam-se com a censura, a guerra colonial para onde eram mandados, as
prisões pela PIDE e o exílio para o resto da Europa. O “Redondo Vocábulo”, uma
canção que considero genial, transmitia de certa maneira o clima introspectivo
dos jovens portugueses, sedentos de liberdade e fartíssimos da mediocridade
fascista.
L.A.- Quando era criança, é a canção “O meu menino é d’Oiro” aquela
que ouço então pela primeira vez. Também o “Menino do Bairro Negro” é uma das
canções para mim mais relevantes nos anos 60, pela belíssima melodia e pela
escrita fortemente poética, dedicada às crianças desfavorecidas e à esperança, um quase hino às crianças do
mundo inteiro “sem condições”. Por último, “Redondo Vocábulo”, saída um ano
antes do 25 de Abril de 1974, canção cujo texto é escrito na prisão de Caxias,
corresponde a um período da minha juventude extremamente instável: os jovens
debatiam-se com a censura, a guerra colonial para onde eram mandados, as
prisões pela PIDE e o exílio para o resto da Europa. O “Redondo Vocábulo”, uma
canção que considero genial, transmitia de certa maneira o clima introspectivo
dos jovens portugueses, sedentos de liberdade e fartíssimos da mediocridade
fascista.
JPB - Como é que acha que as pessoas encaram as músicas do seu pai?
L.A.- Muitas vezes de forma redutora. A obra de José Afonso é
vasta; há inúmeras canções que são desconhecidas pelas pessoas, líricas,
ligadas ao teatro. Mesmo as chamadas de “intervenção”, aquelas que têm um
carácter denunciador das injustiças e da opressão vivida antes do 25 de Abril,
vão muito para além da “Grândola” ou dos “Vampiros”. Há canções líricas que
retratam o nosso país e que simultaneamente apelam à ingerência do cidadão, o
não desviar os olhos, ao intervir naquilo que parece privado mas que é afinal a
miséria de todos (por exemplo, a canção “Teresa Torga”), e que são
desconhecidas de muita gente. Mas sem dúvida que a sua música cantou o pior e o
melhor do que existe em cada um de nós e do nosso país, cantou a justiça e a
liberdade, a esperança que faz mover a generosidade, a coragem para intervir e
não virar costas à exploração ou à dominação – e as pessoas identificam-se com
esses valores.
L.A.- Muitas vezes de forma redutora. A obra de José Afonso é
vasta; há inúmeras canções que são desconhecidas pelas pessoas, líricas,
ligadas ao teatro. Mesmo as chamadas de “intervenção”, aquelas que têm um
carácter denunciador das injustiças e da opressão vivida antes do 25 de Abril,
vão muito para além da “Grândola” ou dos “Vampiros”. Há canções líricas que
retratam o nosso país e que simultaneamente apelam à ingerência do cidadão, o
não desviar os olhos, ao intervir naquilo que parece privado mas que é afinal a
miséria de todos (por exemplo, a canção “Teresa Torga”), e que são
desconhecidas de muita gente. Mas sem dúvida que a sua música cantou o pior e o
melhor do que existe em cada um de nós e do nosso país, cantou a justiça e a
liberdade, a esperança que faz mover a generosidade, a coragem para intervir e
não virar costas à exploração ou à dominação – e as pessoas identificam-se com
esses valores.
JPB - Que influência o seu pai, quanto a si, teve no nosso país?
L.A.- Creio que ele deixou uma obra de qualidade insuperável,
indissociável da nossa cultura mas também, sem dúvida alguma, de cariz
universal. O Portugal que tem um José Afonso referido em qualquer guia
turístico do mundo (dou o exemplo da Pinguin Books, de Londres, que classifica
cada um dos seus CD’s como uma verdadeira obra-prima) como artista mas também
como autor da canção ligada ao Portugal democrático, é igualmente um Portugal
de, entre outros, Fernando Pessoa, José Saramago, António Damásio ou Eduardo
Lourenço. Representa qualidade, dignidade, cultura, cidadania activa, direitos
consagrados e inclusão no núcleo dos países democráticos. Lembra-nos de que não
podemos voltar atrás na nossa história nem consentir que uns o façam por nós.
JPB - Sendo ele um revolucionário, que influência acha que o país teve
no seu pai?
L.A.- A miséria, a injustiça social, a influência de uma igreja
que pregava a paciência aos pobres mas que se colocava ao lado dos poderosos, a
guerra colonial contra os povos africanos, o trabalho infantil, o operariado
sem direitos, as mulheres e as crianças à
mercê da violência doméstica, o grande analfabetismo que grassava, a exploração
das populações africanas nas colónias, os jovens das aldeias portuguesas que
eram mandados para a frente dessa guerra – foi este o Portugal em que José
Afonso cresceu, foi essa a realidade que o fez agir como agiu e criar as
canções que criou. Zeca era um homem à frente do seu tempo: chama-se hoje
cidadania ao que ele fazia perante uma realidade que nos colocava na cauda da
Europa, a qual atribuía-nos a
classificação de país pobre, com uma ditadura, um alto índice de analfabetismo
e uma guerra injusta contra outros povos.
L.A.- Creio que ele deixou uma obra de qualidade insuperável,
indissociável da nossa cultura mas também, sem dúvida alguma, de cariz
universal. O Portugal que tem um José Afonso referido em qualquer guia
turístico do mundo (dou o exemplo da Pinguin Books, de Londres, que classifica
cada um dos seus CD’s como uma verdadeira obra-prima) como artista mas também
como autor da canção ligada ao Portugal democrático, é igualmente um Portugal
de, entre outros, Fernando Pessoa, José Saramago, António Damásio ou Eduardo
Lourenço. Representa qualidade, dignidade, cultura, cidadania activa, direitos
consagrados e inclusão no núcleo dos países democráticos. Lembra-nos de que não
podemos voltar atrás na nossa história nem consentir que uns o façam por nós.
JPB - Sendo ele um revolucionário, que influência acha que o país teve
no seu pai?
L.A.- A miséria, a injustiça social, a influência de uma igreja
que pregava a paciência aos pobres mas que se colocava ao lado dos poderosos, a
guerra colonial contra os povos africanos, o trabalho infantil, o operariado
sem direitos, as mulheres e as crianças à
mercê da violência doméstica, o grande analfabetismo que grassava, a exploração
das populações africanas nas colónias, os jovens das aldeias portuguesas que
eram mandados para a frente dessa guerra – foi este o Portugal em que José
Afonso cresceu, foi essa a realidade que o fez agir como agiu e criar as
canções que criou. Zeca era um homem à frente do seu tempo: chama-se hoje
cidadania ao que ele fazia perante uma realidade que nos colocava na cauda da
Europa, a qual atribuía-nos a
classificação de país pobre, com uma ditadura, um alto índice de analfabetismo
e uma guerra injusta contra outros povos.
( A fotografia de José Afonso foi tirada por Joaquim Lobo, no concerto do Coliseu de Lisboa, em Janeiro de 1983 )
Tiago, Tânia e Sofia
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Música
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14 fevereiro, 2012
Dia de S. Valentim ou Dia dos Namorados
http://www.tsf.pt/Multimedia/Galeria/?content_id=2294255
O Dia de São Valentim remonta a uma jornada de jejum em memória de São Valentim, que foi preso depois de lutar contra a proibição do casamento durante a guerra, decidida pelo imperador romano Cláudio II, e mais tarde condenado à morte após se casar em segredo e continuar a celebrar casamentos.
O Dia de São Valentim remonta a uma jornada de jejum em memória de São Valentim, que foi preso depois de lutar contra a proibição do casamento durante a guerra, decidida pelo imperador romano Cláudio II, e mais tarde condenado à morte após se casar em segredo e continuar a celebrar casamentos.
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Amor/História
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