25 abril, 2009

D. Nuno - História


D. NUNO ÁLVARES PEREIRA, HERÓI DE DUAS ESPADAS

«Eu só, com meus vassalos e com esta
(E dizendo isto arranca meia espada),
Defenderei da força dura e infesta
A terra nunca de outrem subjugada;
Em virtude do rei, da Pátria mesta,
Da lealdade já por vós negada,
Vencerei não só estes adversários,
Mas quantos a meu rei forem contrários!»

Luís de Camões, Os Lusíadas, canto IV

Integrando-nos no ambiente de júbilo e expectativa que antecede a canonização do beato Nuno de Santa Maria, em Roma, pelo papa Bento XVI, no próximo Domingo, dia 26 de Abril, justifica-se que recordemos alguns aspectos da sua vida, bem como o papel que desempenhou na nossa História.
D. Nuno Álvares Pereira nasceu em Cernache de Bonjardim em 1360 e morreu em Lisboa, no Convento do Carmo, em 1431. Filho de Álvaro Gonçalves Pereira, Prior da ordem do Hospital, acedeu a uma educação que o preparou para as lides da cavalaria e da guerra. Junto de seu pai, adestrou-se no manejo das armas, adquiriu valiosos conhecimentos de estratégia e táctica militares. Presenciou batalhas contra castelhanos que o levaram a concluir que era mais útil um bom comando que um exército numeroso e mal organizado.
Tal como os jovens da sua idade, leu os contos do ciclo da Bretanha, deixando-se empolgar pelas façanhas do rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda, identificando-se com Galaaz, devido aos seus ideais - abrigar-se no coração de Deus, confiar-lhe todos os seus projectos e oferecer-lhe a sua vida. Galaaz demandou o Santo Graal, D. Nuno defendeu denodadamente a sua terra de inimigos poderosos, porque a vontade de Deus e a razão assim o exigiam.
Além do povo miúdo, atraiu numerosos adeptos para a causa do Mestre de Avis, contra grande parte da nobreza que apoiava o rei de Castela. Apesar das dificuldades e perigos que se avizinhavam, a paixão e a justeza dos seus argumentos convenciam e entusiasmavam os mais indecisos, unindo-os num único propósito - defender a nossa terra de todos os inimigos.
Antes das batalhas, preparava e estudava o terreno, decidia a táctica com os seus combatentes e rezava fervorosamente, entregando-se com toda a confiança nas mãos de Deus. Em 1385, interceptou a vanguarda do exército castelhano, perto de Aljubarrota, cujo confronto se decidiu em duas horas, a favor dos portugueses. Estes aplicaram a táctica “pé- terra”, através da qual, besteiros e arqueiros venceram a cavalaria inimiga, tal como acontecera na batalha de Atoleiros.
O Condestável usou sempre de grande caridade com os vencidos, chegando mesmo a distribuir, pelas populações inimigas, trigo das suas próprias terras, não permitindo que os seus guerreiros se entregassem ao saque, vingança ou outras violências. Sempre lhes exigiu obediência e disciplina absolutas, pelo que nunca perdeu uma batalha.
D. Nuno foi agraciado generosamente pelo rei D. João I, tornando-se senhor de vastos domínios e o mais notável e poderoso da nobreza portuguesa, devido aos serviços que prestara a Portugal na qualidade de Fronteiro do Alentejo e Condestável do Reino. Contudo, depois de ter combatido “o bom combate”, desprendeu-se dos seus numerosos bens, para se dedicar a Deus e aos mais pobres e esquecidos. Ingressou na ordem carmelita, como frei donato, dedicando-se à oração e à distribuição de esmolas pelos mais necessitados.
Antes do liberalismo romântico de oitocentos, já o Condestável interiorizara o conceito de chão pátrio e defendera a independência da nação portuguesa face ao expansionismo de Castela. Portugal deve-lhe a sua soberania, bem como grande parte da sua identidade cultural. Em 1640, num outro momento atribulado da nossa História, surge da casa de Bragança, por si fundada, o futuro rei D. João IV, que libertaria Portugal do Império Espanhol.
D. Nuno usou uma espada para defender o reino de Portugal, sem temer inimigos poderosos, confiando em Deus, na ajuda dos seus homens e na razão. Com a outra espada, alcançou vitória sobre si mesmo, perseguindo um ideal de pureza através de uma profunda e terna vinculação a Nossa Senhora, a Imaculada Conceição. Desprendeu- se do mundo, dos seus prazeres e das suas honras. D. Nuno Álvares Pereira, herói de duas espadas, nunca deixou de envergar o arnês sob o manto humilde de frei carmelita, sempre pronto para dar a vida por Deus e pelo Reino.
Nos tempos que correm, o seu exemplo de vida e de heroísmo, o amor por Portugal que sempre demonstrou, são verdadeiramente inspiradores para que o nosso povo encontre o seu rumo e se torne naquilo que deve ser.

"NUN’ÁLVARES PEREIRA
Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

‘Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver! "
Fernando Pessoa, Mensagem
Profª Maria Conceição Calado