No início do século XX, foram muitas as revoluções que se passaram por toda a Europa,
com o objectivo de derrubar os regimes totalitaristas e implantar um regime político que, em
oposição às ditaduras, fosse marcado pela igualdade dos cidadãos e onde existisse liberdade.
Esse regime, denominado democracia, está, ainda hoje, em vigor no nosso país.
Basta analisarmos a origem etimológica da palavra democracia (demos= “povo” e
kratos=”governo”) para entendermos que neste regime político é o povo que tem o poder de
decisão, quer seja de forma directa ou indirecta. Assim, qualquer cidadão tem o direito e o
dever de participar na vida política do seu país, sendo o exemplo mais óbvio o voto. Através
dele, podemos eleger os nossos representantes políticos, assim como é possível aos cidadãos
revogá-los do poder se as suas funções não estiverem a ser correctamente cumpridas.
É, assim, um regime onde a igualdade está presente e onde ninguém, teoricamente, se
encontra acima da lei. A liberdade de expressão e de opinião é também uma característica
deste regime. Outro ponto, também importante nas democracias, é a “regra da maioria”, uma
vez que as decisões importantes são tomadas por um conjunto de pessoas e não apenas por
uma. Concluindo, é um regime onde o principal objectivo é promover o bem-estar dos
cidadãos, a autonomia, a igualdade política e a procura de consensos, sendo assim, “um
governo do povo, para o povo e pelo povo”.
Apesar desta ser a nossa actualidade, a democracia, ao longo dos tempos sofreu
alterações, remontando a sua origem à antiguidade grega.
Este povo inovador, que passou a dar principal importância ao Homem nas diferentes
áreas do conhecimento, deixando assim de se preocupar com o Divino e com a Natureza, criou
a polis. Nesta cidade democrática grega, o poder assentava na palavra. A análise crítica, a
discussão e a opinião eram fundamentais, uma vez que, também nesta sociedade, eram os
cidadãos que tinham o poder de decisão. Contudo, nesta sociedade, apenas os homens livres
eram considerados cidadãos, sendo postos de parte as mulheres, as crianças e os escravos.
Ainda assim, este regime era marcado pela igualdade desses cidadãos (isonomia), onde
nenhum deles podia estar acima da lei, que por eles era construída e discutida na assembleia
dos cidadãos e onde deixava de ser inalterável, podendo ser modificada sempre que a maioria
considerasse mais conveniente.
Além disto, e como já tinha sido referido, a palavra tem grande força e importância
para os cidadãos gregos e para a vida da polis. Nas instituições democráticas, como os
tribunais, ajuntamentos e assembleias, a oralidade era fundamental, devido a ser aqui que a
maioria tomava as decisões para a sociedade que previamente eram discutidas. Isto só era
possível graças à igualdade do direito à palavra que todos os cidadãos tinham (isegoria). A
democracia, foi, sem dúvida, um passo importante para o desenvolvimento da retórica e da
análise crítica, devido a todas estas características que lhe pertencem.
É, assim, fácil de perceber, que ainda hoje somos herdeiros desta democracia grega, e
que muitas das ideias bases da nossa democracia foram inspiradas na polis grega. A igualdade,
o poder da palavra, o poder dos cidadãos e as instituições democráticas que hoje fazem parte
do nosso quotidiano, são sem dúvida das “invenções” mais importantes deixadas pelos gregos.
Com toda esta descrição, parece-nos que, de facto, a democracia é um regime cheio
de vantagens e sem qualquer erro à vista. De facto, todos os cidadãos têm o mesmo direito a
participar na vida política de um país, não havendo assim qualquer opressão ou imposição por
parte daqueles que governam. Além disso, as leis têm um carácter alterável podendo ser
modificadas quando é mais conveniente. A liberdade de expressão e de opinião permitem
desenvolver o espírito crítico e discutir aquilo que é melhor para o futuro de uma sociedade,
deixando, assim, mais caminhos de escolha. O governo pretende o bem-estar dos cidadãos e
todas as decisões tomadas são de acordo com o que a maioria decide e não apenas por uma
pessoa. Além do mais, sendo a sociedade democrática marcada pelo poder da palavra, existe
espaço para a discussão de ideias e para a procura de um consenso para que todos os cidadãos
sejam beneficiados e não, apenas, parte deles.
Contudo, existem desvantagens que trazem dificuldades para aqueles que vivem em
regime democrático, uma vez que quanto maior é a liberdade, menor é a tranquilidade; e mais
fácil é ser apenas um a tomar uma decisão importante do que vários.
A maioria é quem decide no regime democrático, mas não é por a decisão ser tomada
por várias pessoas que esta se torna mais correcta ou acertada. De facto, o mais provável até é
suceder o oposto. É mais provável a maioria ser constituída por pessoas más e ignorantes do
que o contrário, sendo essas mesmas pessoas a tomarem a decisão. Além disso, é mais fácil
essa maioria decidir tendo por base e consideração os seus próprios interesses do que
considerar o bem-estar de todos os outros cidadãos da sociedade.
Outra dificuldade para os cidadãos que vivem na sociedade democrática é o facto de
serem facilmente “cegados” por belos discursos e informação manipulada. É difícil para a
maioria entender sobre questões complexas e importantes para a sociedade, sendo facilmente
levados por demagogos e bons “retores”. É, assim, fácil fazer mudar a opinião da maioria dos
cidadãos, devido à sua falta de sentido crítico e por acreditarem em tudo o que ouvem sem
serem capazes de se informarem por si próprios. E quando não são enganados, são
“comprados”.
Com esta manipulação, é difícil construir uma sociedade com base nas ideias
democráticas, e construir uma sociedade onde o bem-estar de todos seja o principal objectivo.
Com isto, não quer dizer que seja preferível viver sob um regime ditatorial. Muito pelo
contrário, uma vez que, ainda hoje, somos prejudicados por algumas mentalidades e
consequências desse regime.
O que é realmente importante, é rever os verdadeiros valores democráticos, pois
estes começam a ser esquecidos por todos aqueles que fazem parte de uma democracia.
O “governo do povo” deixa de governar para o povo e passa a governar para os seus
próprios interesses. Quem decide e quem representa os cidadãos, consegue manipular toda a
informação que chega até estes, deixando-os mal informados, e consequentemente, fazendoos
criar opiniões erradas sobre a actualidade. Quem tem poder e dinheiro, consegue comprar
cargos e pessoas, conseguindo-se colocar acima da lei que, teoricamente, seria igual para
todos. Apesar de todas estas lacunas cometidas na sociedade democrática e que a tornam
ainda menos democrática, há uma que terá de ser travada para que todos estes problemas
não cresçam ainda mais. Os cidadãos devem ter opinião e sentido crítico sobre o que se passa
e sobre aquilo que é melhor e mais justo para a sociedade. Devem deixar de lado os seus
interesses e recusarem serem “comprados” por aqueles que mais poder têm. Todos devemos
participar activamente na sociedade em que vivemos pois, quando isto deixar de acontecer
por parte de todos aqueles que constituem, a sociedade democrática estará instalado o caos.
Reinará a corrupção e a manipulação. Deixará de existir justiça e igualdade entre todos os
cidadãos.
A verdade mais preocupante é que estes factos são reais e estão presentes na
sociedade que vivemos. É importante travar estes vícios para que possamos continuar a dizer
que vivemos em democracia.
Catarina Lourenço nº9
Ano e turma: 11ºCct
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