
A instituição da monarquia dual em 1580, após o desaparecimento do rei D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, alimentou a crença no regresso do rei encoberto, através da difusão das trovas do Bandarra, o sapateiro de Trancoso e mesmo nas profecias difundidas por astrólogos nacionais e estrangeiros. À medida que o tempo passava, essa esperança messiânica consubstanciava – se em D. João, duque de Bragança, à qual não era alheia a influência da Companhia de Jesus. Em 1637, ocorreram as “alterações de Èvora”, devidamente preparadas na universidade daquela cidade com o apoio de vários estratos sociais, contra o aumento dos impostos, visto que o Alentejo padecia de uma grave crise agrícola que se arrastava desde 1631. A nobreza portuguesa é compelida a apresentar - se na corte de Madrid, bem como a pegar em armas contra a rebelião da Catalunha. Após a extinção do Conselho de Portugal, ergueu - se a consciência nacional contra a política do valido de D. Filipe IV de Espanha, o conde – duque de Olivares, segundo a qual o rei deveria submeter todos os reinos da Península Ibérica, incluindo Portugal, a uma só lei, desrespeitando os compromissos assumidos por D. Filipe II de Espanha, nas cortes da Tomar em 1581.
No contexto da guerra dos 30 anos, a França moveu esforços diplomáticos no sentido de promover rebeliões em Portugal e na Catalunha, para enfraquecer política e militarmente a Espanha e derrubar o Império Austríaco. A aproximação a Portugal, feita de promessas de ajuda desinteressada, de índole financeira e militar, verificou - se muito aquém das expectativas, visto que os seus verdadeiros interesses se relacionavam com a vitória no grande conflito acima referido.
Membros da nobreza e do clero instaram com D. João, Duque de Bragança, para chefiar um movimento de independência, ao que o duque reagiu com cautela, por considerar as condições adversas e o apoio francês pouco expectável. Perante a pertinência dos seus argumentos, especialmente aquele que se prendia com a recente rebelião na Catalunha, assumiu a chefia da conspiração composta por 40 membros, que viriam a ser chamados os Restauradores. Estes reuniam – se , pela calada da noite, sob o patrocínio da Imaculada Conceição, cuja imagem servia de senha e de identificação dos conjurados, numa casinha situada nos jardins do palácio do Duque, em Lisboa, no largo de S. Domingos.
No dia 1 de Dezembro, pelas 9 horas da manhã, os conspiradores dirigiram – se para o paço real, imobilizaram as forças castelhanas, mataram D. Miguel de Vasconcelos, secretário de estado, que se escondera, armado, num armário de papéis e defenestraram – no de seguida. D. Miguel de Almeida, o mais idoso e respeitado membro da conspiração, atravessava o palácio, gritando: “Liberdade, Liberdade, Viva El – rei D. João IV!”
Seis dias depois, D. João, chegou a Lisboa para ser aclamado. A notícia espalhou – se rapidamente pelo país e pelo império, sendo recebida por todos com enorme júbilo, excepto Ceuta que permaneceu submetida ao rei de Espanha. Na cerimónia da coroação, Francisco Andrade Leitão, no discurso de legitimação da nova dinastia que se iniciava, invocou o direito português, segundo o qual, a rebelião portuguesa se justificaria, face ao desrespeito pelos compromissos assumidos por Filipe II de Espanha, nas cortes de Tomar em 1581, onde o cumprimento das leis e foros da nação portuguesa ficaram consagrados. Porém, a Europa não se mostrou receptiva em aceitar o que designava por uma revolta de rebeldes ao seu soberano legítimo. Os apoios internacionais ao movimento de independência nacional vão ser alcançados à custa do erário público e de extensas concessões comerciais e coloniais. Estabelecemos tréguas no território europeu com as Províncias Unidas, mas a guerra continuava no Ultramar, especialmente no Brasil, onde os holandeses se apossaram da Baia em 1624 e posteriormente alcançaram o controlo de todo o nordeste brasileiro.
Em 1660, D. Catarina, filha de D. João IV, casou com Carlos II de Inglaterra, levando um valioso dote em dinheiro e em territórios ultramarinos (Tânger e Bombaim), portas de entrada para os continentes africano e asiático, respectivamente. A Espanha ganhou importantes vitórias diplomáticas nos tratados de Vestefália (1648) e Pirinéus (1656), onde as pretensões portuguesas ao reconhecimento internacional da sua independência não foram contempladas, especialmente pela Santa Sé e pela França. Portugal iniciou a Guerra da Aclamação, carecido de meios financeiros e de militares preparados para uma guerra moderna, num contexto diplomático europeu de grande hostilidade face às suas pretensões. Nos primeiros anos de guerra contra a Espanha, o conflito assumiu um carácter defensivo, com ataques surpresa e escaramuças em ambos os lados da fronteira. Nos últimos dez anos, com o apoio de mercenários ingleses e franceses e de Schomberg, militar alemão que estivera ao serviço de França, alcançámos a vitória e a paz definitivas e o reconhecimento internacional da nossa independência, após as batalhas de Ameixial e Montes Claros.
Depois do domínio filipino, Portugal perdeu o monopólio do controlo do Atlântico Sul e a aliança com Inglaterra tornou - se prioritária nos planos diplomático e geo –estratégico.
A celebração da nossa independência, continua actual e plena de significado, não devemos esquecer que somos um povo ao qual se reconhece uma singularidade, apesar das vicissitudes históricas. Importa transformar as nossas fraquezas nas nossas forças e traçarmos o nosso próprio destino. Viva Portugal!
M. Conceição Calado.
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