14 junho, 2011

OS DEDOS TAMBÉM TÊM OUVIDOS

Fecha os olhos e experimenta sentir um cabelo com o tacto, por exemplo, rolando-o entre dois dedos. Consegues notá-lo. O diâmetro de um cabelo humano tem poucos centésimos de milímetro e os dedos conseguem senti-lo. Não há mais nenhuma parte do corpo capaz de o fazer.
Esta capacidade sensorial há muito que intriga muitos especialistas. As linhas salientes das pontas dos dedos – a que se chamam cristas - parecem ter um papel decisivo.
Ao fazeres a experiência terás também reparado que é mais fácil sentir o cabelo se mexeres os dedos. Isso acontece, pois com esses movimentos a pequena pressão que o objecto faz vai fazendo-se sentir em partes diferentes da pele. Com um pouco de paciência, notarás ainda que os dedos atingem uma sensibilidade óptima movendo-se a certa velocidade. Se rolares de novo o cabelo entre os dedos, repararás que nada consegues sentir se os mexeres muito lentamente, tal como nada conseguirás sentir se mexeres os dedos com muita rapidez.
Nos últimos anos, têm sido feitos grandes progressos na compreensão deste poder táctil. Percebeu-se que há dois mecanismos distintos. A percepção de objectos maiores, digamos, maiores do que um quinto de milímetro, usa a variação de pressão sobre a pele e é medida pela adaptação dos nossos receptores mecânicos. Em contraste, para objectos menores, como é o caso dos cabelos, é necessário que os dedos se mexam, provocando vibrações mecânicas. Aqui entram em campo os chamados corpúsculos de Pacini, descobertos em 1835 pelo anatomista italiano Filippo Pacini (1812 – 1883). Há alguns anos, percebeu-se que esses finos órgãos sensoriais codificam as vibrações resultantes da passagem das cristas dos dedos pelos objectos, sendo mais sensíveis as oscilações na ordem dos 250 Hz, ou seja, 250 oscilações por segundo.
Entretanto, cientistas de um laboratório de física estatística da Universidade de Paris fizeram uma série de experiências e de cálculos que clarificam a forma como essa frequência aparentemente tão elevada é obtida pelos nossos dedos. O que acontece é que as cristas das pontas dos dedos, ao roçarem pelos objectos a determinada velocidade óptima, produzem vibrações cutâneas – som – que atingem essa frequência ou suas harmónicas (submúltiplos e múltiplos). Daí a necessidade de mexer os dedos a determinada velocidade.
De momento, as experiências são apenas feitas com modelos mecânicos e as conclusões tiradas através de cálculos típicos da análise matemática sobre a possível modelação de frequências. Mas já se percebeu que temos uma espécie de ouvidos nas pontas dos dedos!

Célia Maria da Conceição Dias (Matemática)

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